Hoje eu tava pensando que nunca escrevi um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado (com excessão daquele encontro que nunca aconteceu).
Você sempre foi o único amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando eu chego perto do alcool. E o único que sempre entendeu também, depois, eu dormir meio chorando porque é impossível abraçar sequer alguém, o que dirá o mundo.
Outro dia eu encontrei um diário meu, de 2004, e lá estava escrito “hoje eu larguei meu namorado sentado e resolvi sair com ele”. Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você, eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e sai com você. Porque você é meu melhor companheiro, mesmo sendo tímido e desajeitado.
Depois encontrei uma foto em que você está com um daqueles óculos escuros espelhados de maconheiro. E outra, eu de calça colorida parecendo uma paquita. E nessa época você não gostava de mim porque eu era a menina tímida, chata e desinteressante. Mas eu gostava de você porque você tinha pintas e eu achava isso super sexy. E eu me achei ridícula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito.
Aí lembrei que alguns anos depois, quando eu já não era mais a chata e desinteressante e sim uma universitária metida a esperta que só namorava figurões (uns babacas na verdade), você viu algum charme nisso e me roubou um beijo novamente. Fingindo não conseguir resistir. Foi ridículo. Mas foi menos ridículo do que aquela vez, antes da faculdade, que eu corrompi a timidez (e o orgulho) e te agarrei. Você me abraçou tão forte que me arrependi da brincadeira
Eu não sei porque exatamente você não mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro dvd do Engenheiros do Hawaii. Ou quando me deu aquele com um monte de músicas legais para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu ficar com você e com mais metade da cidade, você me deu aquele calendário com a sua foto, que tinha aquele castelo lindo no fundo. Também não sei porque eu não escrevi um texto quando você chegou naquela tua festa de aniversário brega, me viu dançando no canto do sofá, e veio em minha direção como quem diz “eu sei que você não gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assim” e dançou comigo sapateando em cima dos meus pés obesos.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi a única coisa que não se pede a alguém que ama a gente “me faz companhia enquanto meu namorado está viajando?”. E você fez. E você me olhava de canto de olho, se perguntando porque raios fazia isso com você mesmo. Talvez porque mesmo sabendo que eu não amava você, você continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
Depois você começou a namorar uma menina e deixou, finalmente, de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para você. Claro que eu senti ciúmes e senti uma falta absurda de você. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso.
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia que você me xingou até desopilar todos os cantos do seu fígado. Eu fiquei numa tristeza sem fim. Depois pensei que a gente só odeia quem a gente ama. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto você quiser desde que isso signifique que você ainda gosta um pouquinho de mim.
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro palavrões esdrúxulos ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo é você. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invés de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo é você. Eu sou mais você do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você.
Até aquele momento. Até aquela noite. Em que você, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que você simplesmente foi embora. Como se eu fosse só mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. E que você usa para não sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que você deixou eu te olhar, mesmo você não gostando de mim.
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.
6 comentários:
Talvez estivesse esperando esse momento pra escrever um texto sobre ele!
Tavez soubesse que isso ia acontecer!
Fascinante...
;P
São quatro anos de História, e você conseguiu traduzi-la em poucas linhas. O texto mais fantástico que eu já li na minha vida, vindo de você eu não me surpreendo. Você é uma mulher alfa na minha vida, só eu e você sabemos o quanto um é importante na vida do outro, não consigo me imaginar nem um minuto longe de você, sem saber se você está bem e feliz. Quando eu te conheci não tinha noção do quanto você iria significar na minha vida, hoje sei que você não significa nada, você faz parte dela.
Se depender de mim ainda será acrescentado muitas e muitas linhas nesse texto, e serão linhas compostas pelas mais belas palavras. Entre elas aquela que foi somente você e mais ninguém que escutou vindo de mim, você sabe qual é.
_______________________Ass: (...).
Que inveja!!!!
Lindo texto também.
vc sempre o amou!desde quando ele era menos importante!
bem legal!
adorei!
parabens!
Caramba! nunca vivi nada disso :-| deve ser ruim, mas deve ser bom.
Oi, Jackie!
Também estou participando do Blorkutando. Adorei a abordagem que você deu ao tema.
Ah, posso te pedir um favorzinho? Tire essas letras de verificação nos seus comentários. É muito chato ter que ficar digitando isso toda vez que a gente vai comentar e não ajuda em nada na segurança. É balela!
Beijos e sucesso!!!
MEU BLOG: http://www.sabrinamix.com
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